segunda-feira, outubro 22, 2012

San Diego II - Meu coração canta feliz



O segundo dia em San Diego foi todinho das praias. Afinal, é mais que obrigação aproveitar o sol da Golden Coast. Primeiro, um ônibus até La Jolla (se fala “La Róia”. Se falar diferente pode sair uma palavra feia), onde as algas imperam, claro, e os leões marinhos bronzeiam as panças. Depois, mais ao sul, Pacific Beach e Mission Beach, uma ao ladinho da outra. Habitadas basicamente por cocotos californianos (*aplausos*) jogando bola, correndo, mergulhando e pegando onda. Alguma dúvida de que foi ali que eu passei a tarde inteira e me batizei nas águas do Pacífico? Ah, que vidinha mais ou menos.


Outro ônibus mais pro sul, agora pra Ocean Beach, uma praia mais cheia, com uma galera mais farofa (no nível californiano, não Piscinão de Ramos), onde o pessoal parece pegar onda usando sistema de cotas. Sim, porque os surfistas aqui são os senhores, os barrigudinhos, as crianças e os totalmente sem jeito. Mas cá estava seguindo mais uma dica brilhante do maluco do hostel: assistir ao pôr-do-sol de um píer que vai até láááá longe no mar e fica cheio de pescadores, pelicanos e gaivotas. E eu, que achei que já tivesse sido feliz no primeiro dia, não esperava a plenitude que foi aquele entardecer no meio do mar da Califórnia. Botei uma musiquinha óbvia no iPod, senti aquela brisa (cismei com vento) e esqueci da vida. Qualquer coisa que eu escrever aqui, por mais bonita que seja, não vai ser capaz de traduzir aquele momento. Só eu sei. E foi lindo demais.

À noite, baladinha com o povo doido do hostel num pub ótimo com duelo de pianos. Nunca tinha visto isso. O público escolhe as músicas que quer ouvir e os caras têm que tocar! Podem fazer o arranjo que quiserem, mas o desafio é tocar o que for. O único problema, não só aqui, mas em todo o país, é que tudo fecha cedo. Antes de 2h da manhã e não tem mais nada pra fazer. O que é isso, minha gente? Vem aprender com brasileiro como se faz night, vem. 

Último dia em San Diego, a gente se manda pro maior zoo do país, com uma quantidade interminável de macacos e ursos. Mas a estrela maior, pra mim, foi o hipopótamo que dorme boiando. Não, mentira, o melhor era ouvir aquelas criancinhas com voz fininha e inglês perfeito dizendo “Look, mommy, a turtle”! Ai, que vontade de morder!!!!
Voltinha em Old Town, com direito a almocinho mexicano delícia e balde de marguerita. Eita lelê. No passeio pelo Balboa Park, avisto ao longe alguém muito parecido com um amigo do Brasil. Super coincidência. Não fosse pelo fato de que, ao me aproximar  mais dele, vi que não era parecido. Era sim o meu amigo queridíssimo Davi. Em San Diego. No mesmo lugar e mesma hora que eu. De férias na mesma época que eu. Um sem saber da viagem do outro. E o destino só me pregando peças ótimas. Pode continuar assim que eu tô amando! 

E pra fechar minha curta temporada nessa cidade, fiz questão de assistir a um jogo de baseball. San Diego Padres x St. Louis Cardinals. Eu sei lá quem era melhor, eu sei lá que campeonato era aquele. 
O que eu queria mesmo era ter a experiência de ir a uma partida e ver como o povo se comportava diante de um esporte tão importante na cultura deles. Até assisti a uns joguinhos na ESPN antes de viajar pra não chegar lá muito perdida. Mas olha: se já é difícil na TV, com comentaristas e tudo, ao vivo é impossível de entender. Foram as três horas em que eu mais boiei na minha vida. Que coisa mais lenta, Jesus! Dá pra ir ao banheiro zilhões de vezes, comprar 500 hot dogs, aproveitar o free wifi pra entrar no Facebook, dormir, tirar foto... pra ter uma ideia, além dos dois home runs, o momento mais divertido foi quando um qualquer invadiu o campo, pulou a grade que dava pra rua, correu pelo gramado do lado de fora e conseguiu desviar de todos os seguranças que corriam atrás dele. Muito Chuck Norris! Ah, e eu aplaudi um home run do time adversário e não fiquei de pé durante a execução de "God bless America" em pleno 11/9. Muito bem, Marcela. Fazendo tudo errado.

E queria deixar aqui minha homenagem ao Lulu. Em cada parte da Califórnia você lembra da música dele e nota que ela é muito real! Arrasou, Lulu!

O vento beija meus cabelos
As ondas lambem minhas pernas
O sol abraça o meu corpo
Meu coração canta feliz
:) 

San Diego I - De repente, Califórnia

A pessoa passa um ano e meio sem férias. Acha que não vai aguentar. Mas resiste e é compensada com 2012, esse ano lindo de férias em dobro. Então, vamos nessa que a estrada é o lugar preferido dos meus pés. Da minha mente e de todas as células do meu corpo também. 

De repente, Califórnia. Não dá pra começar de outra maneira. É óbvio, eu sei, mas gosto de obviedades. E a Califórnia é cheia de todas as obviedades de que sempre ouvimos falar. Por outro lado, é tão surpreendente que é impossível não se apaixonar por ela. Surpresa e paixão definem os dias que passei em San Diego, minha primeira parada. A gente mal ouve falar de San Diego aqui no Brasil. Claro, Los Angeles e San Francisco pegam todos os holofotes pra elas. E quer saber? Sorte de San Diego, que consegue a proeza de ser um lugar encantador e sem aquela manada de turistas pelas ruas. Se eu pudesse defini-la em uma expressão, seria “Have a nice day”, pois é o que mais se escuta todos os dias, a qualquer hora, em todos os lugares. Não é forçação, é gentileza. As pessoas em San Diego são tão doces e simpáticas que dá vontade de sair abraçando todo mundo. É muito amor. Que sorte eu ter vindo pra cá.

Cheguei num dia (bem) quente de verão, já pegando amizade com o motorista do shuttle e o cara da recepção do hostel. Esse último, Sam, realmente era “O” cara! Completamente despenteado, sempre com uma roupa bem mulamba, passava o dia inteiro descalço e as noites bêbado e me deu as melhores dicas que eu poderia receber. O maluco era o fervo! aluguei uma bike (que eu batizei de Dieguita) e não poderia ter feito coisa melhor. Dieguita foi minha maior companheira: passeamos por Seaport Village, pegamos a balsa (bikes são bem-vindas a bordo e os ônibus têm um lugar especial pra elas, coisa de lugar evoluído) e passamos a tarde inteirinha morrendo de amores por Coronado, uma ilhota com casas lindas, gente fofa e onde eu moraria fácil. Uma paradinha estratégica pra molhar os pés no Pacífico e comprovar que 1) sim, a água é muito gelada e 2) sim, o mar é lotado de algas pentelhas que enroscam na sua perna. Continuando a pedalada e, opa, um casamento no meio do caminho, em plena calçada, pra todo mundo ver. Adorei.
















Pra terminar a tarde, ainda em Coronado, música ao vivo e de graça no Spreckels Park. Era o último dia de concerto porque o verão estava chegando ao fim. E o parque estava lotado de gente, vários grupos de amigos de todas as idades fazendo piqueniques, barraquinhas e mesas cheias de comida. Humilde que sou, sentei num cantinho e abri minha bolsa pra pegar um pedaço de pão singelinho e enganar o estômago. Eis que um anjo chamado Steve, um senhor cheio de outros amigos senhores, olhou pra mim e me convidou pra me juntar a eles e desfrutar de companhia e de todas aquelas comidinhas maravilhosas preparadas por eles mesmos. Gente, eu não conseguia acreditar naquilo. Meu primeiro dia numa terra desconhecida, num país não muito famoso pela receptividade, e fui acolhida por essas pessoas tão queridas, tão abertas que fiquei até sem graça. Juro, tive vontade de chorar de emoção. O sol foi baixando, o coração enchendo ainda mais de alegria e o papo rolando solto com a trupe do seu Steve. Ali eu sabia que minha viagem seria incrível.

Os ferries entre San Diego e Coronado têm horas certas de saída, mas toda aquela mágica da ilha obviamente me fez perder a hora. Até dei uma corrida com Dieguita, mas não teve jeito: cheguei no porto e a barca tinha acabado de partir. Nada é por acaso. Porque esperar a próxima partida sentindo aquele ventinho gostoso e admirando San Diego toda iluminada do lado de lá da baía foi pra ser feliz pra sempre.