quarta-feira, maio 09, 2012

Porto – Cheia de charme

Tá em Lisboa? Vá ao Porto. Tem pouco tempo? Tudo bem, um dia já dá pra alguma coisa. Se não for, vai se arrepender, vou logo avisando. Porque o Porto, minha gente, é muito encanto numa cidade só. Acha longe só por ser muito ao norte? Pô, já viu o tamanico de Portugal? Então pronto. Basta enfrentar o frio safado da manhã lisboeta, pegar um trem de alta velocidade na estação Oriente e em pouco mais de duas horinhas cruza-se o país quase todo e chega-se ao Porto. 

Da estação Campanha ao centro tem que pegar um ônibus. Além disso é preciso fazer um baita esforço pra entender o português falado por essas bandas daqui. Difícil, viu! Mesmo assim, a gentileza das senhorinhas portuenses foi tão sincera e comovente que foi só mandar a linguagem universal do sorriso que todo mundo se entendeu.




 Porto é uma cidade antiga à beira do rio Douro, cheia de ruelas de paralelepípedo. Já é mais que o suficiente para torná-la tão charmosa. Um passeio a pé pelo centro histórico te concede o direito de se perder por suas calçadas apertadinhas e cheias de casarões, dar de cara com uma majestosa Catedral da Sé e, logo em frente, se deparar com um cortiço, tudo muito integrado à paisagem.


Dali, cruzamos a ponte Luís I (que está em 99% das fotos tiradas na cidade) até o outro lado, Vila Nova de Gaia. Paramos uma mocinha pra pedir informação e adivinha de onde ela era? Do meu, do seu, do nosso Brasil, é claro. Minha mãe, usando todo as suas técnicas de psicóloga sem perceber, descobriu em menos de cinco minutos tudo o que a menina faz, a história da família e toda a saudade que sente do Pará. Dona Selma é terrível! Mas voltando... É ali em Vila Nova que ficam as diversas bodegas que vendem os mais deliciosos e famosos vinhos do Porto. Obviamente eu garanti o meu. Mas essa nem é a melhor parte. Sabe quando dizem que Niterói é uma linda cidade porque tem vista pro Rio? Pois é, Vila Nova tem vista pro Porto. E ali, na margem do Douro, a vida é boa demais quando você senta num banquinho, curte a brisa e o sol, e contempla o rio, os barcos, a ponte e o Porto tomando a colina. Se quiser abrir a garrafa de vinho lá mesmo, certamente tudo vai ficar ainda mais incrível.



Cruzando a ponte de volta, agora pela parte mais baixa, se chega à Ribeira, o calçadão do Porto, onde pequenas lojas e restaurantes, além de algumas dezenas de gaivotas fofas, dividem espaço com os pedestres (ok, turistas). Seguindo ladeira acima (e põe acima nisso!), a boa é subir a Torre dos Clérigos até seu mirante. São trilhões de degraus. Você acha que não vai conseguir. Você quer desistir e voltar pra casa. Mas continue! Quando você chega lá no alto o vento é tão gostoso e a vista, tão bonita, que compensa todo o esforço.


A volta de trem pra Lisboa foi como andar de ônibus no Rio: tem sempre um rapazinho delícia pra gente olhar a viagem inteira e tem sempre uma “nem” sem noção que fica horas aos berros no celular. E eu achei que só a gente aqui sofria com esse mal. Ô raça!

terça-feira, maio 08, 2012

Lisboa (parte 2) - Gordices

Eu morro de medo de mar, mas amo oceanários. E já que Lisboa tem o melhor oceanário do mundo, foi pra lá que nós fomos em mais uma manhã fria. Metrô até Oriente, uma caminhada em direção ao rio e pronto: um aquário central gigante, repleto de tubarões, arraias e toda sorte de peixes já vale cada centavinho de euro que você paga. Depois de passar horas hipnotizado por aquele mundão azul você se lembra que tem mais uma série de aquários menores pra ver, cada um deles representando uma região diferente da Terra. Não preciso nem dizer que o espírito Felícia mais uma vez tomou conta de mim e eu queria esmagar de tanto amor todos os pinguins e lontras presentes.


E depois o dia foi todo na companhia da Ines, minha amiga portuguesa com certeza, um anjo que nos levou por um tour motorizado por toda a maravilhosa costa de Lisboa até subir para Sintra, passando por Oeiras, Estoril, Cascais e o Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa, um penhasco com a paisagem mais impressionante do caminho. Nas palavras de Camões: “Onde a terra se acaba e o mar começa”. 

Depois de uns dois meses sem uma gota de chuva na região, São Pedro resolveu mostrar serviço justamente nesse dia, então nossa visita ao Palácio da Pena, em Sintra, foi bem encharcada. É a mais distante de todas as construções desse porte na cidade porque fica no alto da montanha, portanto, carro ou ônibus para o alto e avante. Mas com chuva ou sem chuva o importante é jamais deixar de dar uma paradinha na Casa Piriquita, uma lanchonete de doces regionais, e se acabar nos “travesseiros”, o melhor quitute ever! Quentinho, massa levinha de ovos com amêndoas. É o paraíso na terra. 

E por falar em paraíso, comida e Portugal, não dá pra não falar do bacalhau. Não aquela coisa seca e mega salgada que compramos nos mercados brasileiros, mas aquele peixe farto, saboroso, bem temperado e praticamente afogado num azeite dos deuses. Quem nunca comeu bacalhau em Portugal nunca comeu bacalhau de verdade.

segunda-feira, maio 07, 2012

Lisboa (parte 1) - Brasileira com certeza!

O que realmente importa é descobrir que uma parte da Europa, esse continente tão belo, faz parte de você. Ou você faz parte dele. Enfim, é pegar um avião, desembarcar num novo país e se sentir em casa, com a impressão de que, estranhamente, as coisas ali não são estranhas para você. Portugal, coisa linda, cruzei o oceano só pra te conhecer. E no fim das contas descobri que te conhecia desde sempre.

Seu povo sério e , sim!, hospitaleiro e simpático, nos recebeu numa manhã fria de céu azul e sol gigante falando a língua mais bonita do mundo: a nossa. E como é bom falar o bom e velho português e ser entendido! É um afago na alma, um abraço de amigo. Melhor que isso foi só ter chegado ali com a minha mãe, que nunca havia viajado pro exterior antes, e notar o olhar dela tão brilhante, incrédulo, infantil, um pouco assustado e MUITO feliz. Sério. Eu nunca havia visto minha mãe tão feliz como a vi nesses dias de viagem. Viajar é a melhor coisa da vida e ainda opera toda uma magia! :)

O sono não deu muita trégua no primeiro dia, mas também não impediu uma caminhada pelas pedras portuguesas (pedras locais?) tão lisas e polidas (que nem no Rio, só que ao contrário) da Baixa e pela lindíssima Praça do Comércio, o Cais da Ribeira beijando o Tejo, e as ladeiras intermináveis do Chiado (Salvador, é você?) e da Alta.

 



No dia seguinte, metrô até Restauradores e bonde moderninho até Belém. A névoa não queria arredar pé, então começamos o tour pelo Mosteiro dos Jerónimos.  Uma igreja magnífica guarda o túmulo do Camões e do Vasco da Gama (vice de novo!), e dá pra ficar horas observando cada mínimo detalhe esculpido nas pilastras e arcos. 




A poucos passos dali, a atração mais importante: o restaurante dos deliciosos e imperdíveis pasteis de Belém. Quentinhos, com canela e açúcar, fazem a vida valer a pena. Ainda mais se acompanhados do chocolate quente (indico!) e do sanduíche no pão de centeio produzido na casa. Pra fugir da muvuca turística, vá caminhando lá pro fim do estabelecimento e certamente haverá mesas livres. E eis que, depois desse happy meal, o sol apareceu. Então foi só cruzar o jardim e a avenida em direção ao rio pra dar de cara com o Padrão dos Descobrimentos. Gente, eu fiquei abestalhada com o tamanho e perfeição daquele negócio. As esculturas são enormes! É muito bonito! E o Vice da Gama ali, tipo o segundo ou terceiro na escala de importância. Tô te dizendo... Alguns metros adiante, a famosa Torre de Belém, de onde os navegadores partiam pra explorar esse mundão de meu Deus. É muita história, muita relação com a nossa própria história. Adoro essas coisas. 


E quem disse que o dia havia acabado? Nada disso! Voltamos pra Lisboa a tempo de visitar a Igreja de Santo António, A Catedral da Sé e, no topo da colina, o Castelo de São Jorge com sua muralha e o lugar perfeito pra apreciar o sol se pondo sobre a cidade e o rio. 



Todos os dias agradeço a minha amiga Elissa por duas indicações que fizeram toda a diferença nessa ida a Portugal: passar um dia no Porto e ir à Tasca do Chico. Porque, gente, a Tasca do Chico é o lugar mais especial que existe em terras lusas. Um pequeniníssimo restaurante no Bairro Alto (a boa é subir pelo Elevador do Glória, também conhecido por um bonde super charmoso que sai da Praça dos Restauradores) , em que clientes de todas as idades se espremem e dividem mesas apertadinhas. A decoração é baseada em clubes de futebol e elementos referentes ao fado, o chouriço é flambado ali mesmo na sua frente num fogo que faz seu rosto arder, e o vinho tinto local acompanhando é a melhor pedida. Lá, toda segunda e quarta a partir de umas 20h, as luzes são apagadas e só restam as poucas velas sobre as mesas, enquanto todo o ambiente e o seu coração são tomados pela força do “fado vadio”. Cantores de fado não profissionais e dois violonistas apresentam uma música mais linda que a outra no meio da clientela amontoada. Impossível não se emocionar. Os mais sensíveis, como eu, não seguram as lágrimas. Garantia de uma noite mágica.


 Tasca do Chico
Rua do Diário de Notícias, 39
Recomendo chegar por volta de 19h, ou corre-se o risco de não conseguir entrar/sentar