domingo, maio 09, 2010

Patagônia - Porra, Cauby!

25 Abril 2010 (Parte 2) – Entramos no voo da Aerolineas rumo a Buenos Aires, com escala em Bariloche, e lá estava ele. Sobrancelhas milimetricamente desenhadas; cabelo todo trabalhado na escova, pouco acima dos ombros; franja de lado, estilo emo; a pele morena-avermelhada como a de índio patachó. Medo.

Cauby (apelido carinhoso que demos a ele) era o chefe de comissários do voo. Nos recebeu na porta do avião com um esboço de sorriso (porque Cauby não era nada simpático), mais parecendo um mordomo de mansão mal-assombrada, só que bronzeado. Cauby não saía da porta da cabine do piloto. Mantinha-se ali com seu terno alinhado, braços cruzados, feições fechadas, olhando os passageiros como se pertencessem a uma espécie muito inferior à dele. Cauby intimidava.

Então paramos em Bariloche, umas pessoas desembarcaram e Cauby anunciou que a aeronave seria reabastecida e isso levaria uns minutos. E aí eu tive uma mega vontade de dar um pip’s. Havia um banheiro pertinho, o da primeira classe, bem ao lado de Cauby. Eu apenas levantei, olhei fundo nos olhos de Cauby (pânico!) e apontei pro banheiro. Cauby não moveu um músculo da face. Continuou de braços cruzados, fechou os olhos e, vagarosamente, fez que “não” com a cabeça. “Ah, deve ser porque é o banheiro da primeira classe", pensei. Apontei o banheiro da ralé, lá nos fundos do avião. Cauby não se deu ao trabalho de fazer algum outro movimento diferente. Não pode. Aí eu caprichei na minha cara de sofrimento, como se estivesse muito apertada (pior que eu estava mesmo!), e voltei ao meu lugar, rezando pra Cauby se comover.

Avião parado. Nada pra fazer. Cauby empatando minha ida ao banheiro. Vlad e eu começamos a imaginar os diálogos de Cauby com os demais membros do voo. Coisas como “Ai, capitão, o senhor fica um gato nesse terno”, “Só aturo primeira classe. Odeio pobre!” e “Sai daqui sua comissariazinha racha! Vai cuidar dos pobres da segunda classe”. Não sei de onde tirei forças pra não fazer xixi ali mesmo, porque a gente gargalhava de ficar se sacudindo e despertando olhares curiosos dos passageiros ao lado.

Muitas horas e risadas depois, vem Cauby pelo corredor, com aquele jeitinho machão que todo comissário de bordo tem (not!), para do meu lado (susto!), abre um sorriso (oi?) e diz que agora eu posso usar o banheiro e que antes não dava porque os passageiros devem ficar em seus lugares durante o reabastecimento do avião e blá blá blá whiskas sache saí correndo pro mísero toilette.

Só me arrependo de não ter tirado nenhuma fotinho de Cauby. Senão eu revelaria e colocaria na porta do meu banheiro.

Porra, Cauby!!
Sem beijos pra vc.

Um comentário:

Luana disse...

Poxa
Bem que ele podia ter cantado um "Conceiçaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao"...

Aí, duvido que você se segurava.