domingo, junho 26, 2011

Mendoza / Cordilheira dos Andes

Sempre quis conhecer Mendoza, cidadezinha argentina próxima ao Chile e famosa por ser a principal produtora de vinhos do país. E esse foi meu segundo destino no projeto “Fim de semana de aventura na América do Sul”. Ah, quanta diferença pra minha primeira viagem! Mendoza é pequenina, linda, fofa, limpa, organizada, tranquila e cheia de guardinhas nas ruas. Perfeita para um fim de semana a dois, a três ou praquele indivíduo que, como eu, vai sozinho e pega aquela amizade gostosa no albergue e nos passeios.

É facinho andar por lá. Mendoza tem uma praça principal (Independencia) e outras quatro menores em volta dispostas feito pontos cardeais (San Martin, Chile, Italia e España). Todas são uma graça, mas realmente a Plaza España e seus azulejos (com direito a homenagem a Don Quixote) são insuperáveis. As praças são um bom ponto de partida pra conhecer a cidade. E eu fiz esse conhecimento praticamente na correria porque cheguei de manhã cedinho e o primeiro passeio já estava marcado pra hora do almoço. Então, resumindo a loucura (pois comigo nada pode ser tranquilo): Rio-Buenos Aires sexta à noite; voo pra Mendoza só saía às 7h, pensei em dormir no aeroporto, mas estava frio e às moscas; ligação de emergência para a amiga Ciana, que me albergou durante quatro horas em sua casinha (sono providencial); chegada a Mendoza às 8h, taxi rápido pra cidade, chego no albergue e o quarto não está pronto; Marcela está exausta, com fome e precisa tomar banho, mas decide conhecer a cidade e providenciar um alimento no mercado antes da excursão. Faltando uma hora pra van passar no hostel, a pobre sai correndo do Carrefour, consegue tomar um banho a jato e vai comendo o sanduíche ali na van mesmo.

E se Mendoza é a cidade dos vinhos, é justíssimo que o primeiro passeio seja em vinículas (ou “bodegas”, como eles chamam). Primeiro, uma bodega “profissa”, com produção em larga escala, tudo rico e sofisticado. Ao fim, desgustação de todos os tipos de vinhos que ela produz. Ô que chato. E meu grupo de chilenos, italianos e americanos não comprou uma garrafinha sequer. Em seguida, como não só de vinhos vive o homem, uma paradinha estratégica numa fábrica artesanal de azeite de oliva. Alguém já imaginou como isso é produzido? Pois é, nem eu. Mas é um galpão não muito grande, super cheiroso (juro!), onde as azeitonas esmagadinhas em discos furados fazem pingar o azeite e voilà! No final, óbvio, degustação de torradinhas com frios, tomate seco e o azeite deles. Hummm! Pra terminar, uma bodega familiar, de produção mais artesanal. Muito bacana ver as diferenças no processo de seleção da uva, fermentação e armazenamento. Melhor ainda é participar de mais uma degustação. E essa tinha vinhos mais gostosos ainda. O rosé era demais!

Pronto, depois de dormir pouco, comer pouco e me encher de vinhos incríveis, eu estava morta com farofa, doida por uma noite tranquila de sono. E é justamente quando você mais precisa, que alguns seres do albergue resolvem tocar o rebu no meio da madrugada com música altíssima, gritaria e batuque. Pra melhorar, o passeio do dia seguinte seria intenso e eu teria que estar pronta às 7h da manhã. Não sabia que Murphy também tinha ido pra Mendoza. Quem convidou?

Nessa região o sol só aparece em torno de 8h30. Então às 7h, eu e Charlie (meu novo amiguinho americano) entramos no ônibus da excursão "Alta montaña", mas não sem antes dar uma boa reclamada do barulho com o povo da recepão e de constatar que o sanduíche (meu almoço) que eu havia guardado na geladeira do hostel tinha misteriosamente desaparecido. Murphy devia estar com fome. Ainda estava de noite, a calefação do veículo não estava ligada e a gente havia dormido mal. Mas quem se importa? O passeio desse segundo dia era pela Cordilheira dos Andes e já na primeira estrada, ao avistar ao longe a primeira montanha com topo nevado, o coração já encheu de alegria . A cada quilômetro, uma surpresa. Um rio, uma formação rochosa diferente, diversas cores inimagináveis (é rocha, não é ácido), friozinho de respeito e um céu tão azul que era difícil acreditar naquelas paisagens. Passamos por alguns povoados mínimos, onde os habitantes vivem basicamente do artesanato. Mas Puente del Inca, onde as rochas estranhamente ganham uma coloração amarelada, ganha uma aura mais sagrada: lá, o povo vende pedras de energia positiva e manto sagrado (aka Camisa do Mengão!!!).

Pra finalizar em grande estilo, chegamos ao Parque Nacional Aconcágua. Montanhas ainda mais lindas, lagos congelados e um tempo para a contemplação da parede sul do Aconcágua, a maior montanha da América. Um passeio mágico, perfeito para perceber o poder da natureza e admirar aquela obra toda tão grandiosa que ela fez sozinha.     












domingo, junho 05, 2011

Montevidéu (parte 2) - Carnaval, futebol, praia... e não é o Rio!

Depois de uma carne e um vinhozinho, o passeio pelas Ramblas foi bonito, viu? A melhor parte de Montevidéu, quando não se está degustando um churrasco ou um alfajor Punta Ballena (o melhor de todos, com mega recheio de doce de leite), é perto da “praia”. Incrível como a água traz uma energia diferente ao lugar. Mesmo não sendo um esplendor de beleza, luxo e sofisticação, é bastante agradável. Horas depois, vencida pela exaustão, peguei um ônibus pra voltar ao hostel e, olha que maravilha, ele deu tantas voltas que eu fiz praticamente um city tour pela cidade toda. 

Mas foi à noite, já no hostel, que eu me senti realizada. Na “noite das pizzas” promovida por eles, conheci tanta gente legal, de tantos lugares do mundo... e é quando isso acontece que eu sou mais feliz. Muito feliz. Em busca de um bar bem uruguaio, acabamos num Irish Pub ouvindo um uruguaio cantando Beatles. A melhor parte de Montevidéu! E a noite foi divertidíssima entre brasileiros, ingleses, americanos, australianos e irlandeses de sotaques incompreensíveis.

Montevidéu tem carnaval! Um dos mais famosos do país. E tem também Museu do Carnaval (Rio, vamos criar um decente? Grata.), pra onde eu me mandei nas primeiras horas do (almoço do) dia seguinte. Era domingo e as ruas da Ciudad Vieja estavam completamente desertas. Sério, não sei como eu me enfio nesses lugares. Claro que o museu não é grande nem cheio de coisas em exposição, mas foi bacana ver como o Carnaval é parecido e querido em diferentes partes do planeta.

Antes de deixar a cidade, uma passadinha pelo Monumental porque Marcela tem que conhecer todos os estádios do mundo. O jogo do Peñarol algumas horas depois não permitia o tour nesse dia, mas arrumei uma brechinha entre o portão e o muro pra dar uma espiadinha no campo e tentar tirar uma foto (horrível) das arquibancadas.

De volta a Buenos Aires, o avião ficou enrolando pra pousar e eu desesperada pra pegar o voo pro Rio. Cheguei no check-in meia hora antes da decolagem e ainda tive a cara de pau de pedir pro moço um lugar na janela. E não é que o cara me colocou na executiva? Gente, que diferença! A poltrona te abraça, dormir é facinho. Nunca mais chego cedo pra fazer check-in.



Montevidéu (parte 1) - O início da aventura sul-americana

Daí que Deus abriu uma janelinha pra mim e disse que eu iria trabalhar em Buenos Aires uma semana por mês enquanto a amiga Carol estivesse cuidando de seu pequeno e fofucho Lucas. E, além de uma oportunidade incrível de desenvolver meu castellano safado e conhecer gente nova, isso significa aproveitar os finais de semana pra me jogar nessa loucura desenfreada que é a América Latina. É bom estar de volta à estrada. E só eu sei como isso me faz bem. E nem preciso ir tão lá no fundo do meu ser pra saber o quão necessário isso é pra mim nesse momento. Primeiro destino: Montevidéu.

Um avião saindo de Buenos Aires chega lá em 35 minutos. É mais perto que Rio-São Paulo. Mais ridículo que isso só o fato de o Aeroparque (aeroporto pertinho do centro portenho) não ter guarda-volumes. E eu contava com isso pra largar minha mala grande e não precisar pagar 30 dólares à Pluna por bagagem despachada. Me ferrei bonito. Cheguei à capital do Uruguai tarde da noite, surpresa com a modernidade do aeroporto de Carrasco (vergonha-mor do Galeão). Arquitetura, organização, ambientação, tudo lindo! “Rá! Aqui vai ter guarda-volumes”, pensei. Não tem. E toma-lhe Marcelinha pegando um busão às 23h até o centro com mala de rodinhas. 

O ônibus me deixou no terminal rodoviário Tres Cruces. E foi ali, nessa rodoviária bem ajeitadinha (vergonha-mor da Novo Rio) que eu encontrei um guarda-volumes. Inacreditável. Deu de mil a zero naquela modernidade aeroportolesca. E sem compreender uma palavra do que dizia o taxista, cheguei ao albergue, “El Viajero”. Bem simples, com staff extremamente simpático. E fui contemplada com uma ser humana no meu quarto que roncava que nem homem. Eu, que nem estava exausta, apreciei a sinfonia.

De manhã cedinho, curtindo a simplicidade do café (pelo menos tinha doce de leite), ganhei a companhia de um casal de gringos. E quando falaram que eram ingleses, eu quase levantei da mesa (não é preconceito; tenho razões atuais para isso). Mas foram tão legais e fofos que eu me convenci que alguns britânicos se salvam. E como virão morar no Rio ano que vem, pegamos uma amizade forte!

E fui desbravar Montevidéu começando pelo bairro do albergue, Ciudad Vieja. É onde fica o porto (que não se pode visitar), o Mercado do Porto (o paraíso da variedade de carnes assando), alguns museus e... ninguém nas ruas. Me deu até medo, juro. Talvez por ser fim de semana estava tudo deserto. Silêncio. Eu só ouvia meus passos na calçada. E muitas partes da região não são nada bonitas, nem me pareceram muito seguras. E eis que um senhor acompanhado de um cachorro vestido com pulôver roxo (estava frio, gente!) puxou conversa dizendo pra eu tomar cuidado com assaltantes, pra não ficar com a câmera muito exposta, evitar algumas ruas e tal. Também falou pra eu ligar pra ele se quisesse sair à noite (senta, Claudia!) e, quando começou a xingar o cachorro de estúpido e maricón eu já queria estar bem longe dali.

No centro, ao redor da Plaza Independencia e ao longo da Av. 18 de Julio, já havia bem mais gente. Ufa! Todos com sua garrafinha térmica debaixo do braço e sua cuia de mate na mão. Todos mesmo! Deu até vontade de comprar uma. Mas ainda nada de extremamente interessante. Uma fome monstra já tomava conta de mim, mas eu tenho uma mania horrível de não entrar nos primeiros restaurantes que encontro por pura insegurança por estar sozinha. Bobeira total. Uma hora depois eu supero, é sempre assim. Entre sentir vergonha e morrer de fome, acabo ficando com a primeira opção. 

Ainda em busca de atrações um pouco mais interessantes e de um lugar pra comer, eis que avisto ao longe uma casa de parrilla. Foi como um oásis no meio do deserto. Assim que entrei, vi que havia outra mulher almoçando sozinha e me senti bem mais confortável. E foi ali que comi uma das melhores carnes da minha vida. Era um asado cheio de gordura e sabor que me fez sorrir novamente. Acompanhado de uma taça de vinho, então, me fez feliz pra sempre. As carnes da Argentina são incríveis, mas as do Uruguai são insuperáveis.

(continua...)