Daí que Deus abriu uma janelinha pra mim e disse que eu iria trabalhar em Buenos Aires uma semana por mês enquanto a amiga Carol estivesse cuidando de seu pequeno e fofucho Lucas. E, além de uma oportunidade incrível de desenvolver meu castellano safado e conhecer gente nova, isso significa aproveitar os finais de semana pra me jogar nessa loucura desenfreada que é a América Latina. É bom estar de volta à estrada. E só eu sei como isso me faz bem. E nem preciso ir tão lá no fundo do meu ser pra saber o quão necessário isso é pra mim nesse momento. Primeiro destino: Montevidéu.
Um avião saindo de Buenos Aires chega lá em 35 minutos. É mais perto que Rio-São Paulo. Mais ridículo que isso só o fato de o Aeroparque (aeroporto pertinho do centro portenho) não ter guarda-volumes. E eu contava com isso pra largar minha mala grande e não precisar pagar 30 dólares à Pluna por bagagem despachada. Me ferrei bonito. Cheguei à capital do Uruguai tarde da noite, surpresa com a modernidade do aeroporto de Carrasco (vergonha-mor do Galeão). Arquitetura, organização, ambientação, tudo lindo! “Rá! Aqui vai ter guarda-volumes”, pensei. Não tem. E toma-lhe Marcelinha pegando um busão às 23h até o centro com mala de rodinhas.
O ônibus me deixou no terminal rodoviário Tres Cruces. E foi ali, nessa rodoviária bem ajeitadinha (vergonha-mor da Novo Rio) que eu encontrei um guarda-volumes. Inacreditável. Deu de mil a zero naquela modernidade aeroportolesca. E sem compreender uma palavra do que dizia o taxista, cheguei ao albergue, “El Viajero”. Bem simples, com staff extremamente simpático. E fui contemplada com uma ser humana no meu quarto que roncava que nem homem. Eu, que nem estava exausta, apreciei a sinfonia.
De manhã cedinho, curtindo a simplicidade do café (pelo menos tinha doce de leite), ganhei a companhia de um casal de gringos. E quando falaram que eram ingleses, eu quase levantei da mesa (não é preconceito; tenho razões atuais para isso). Mas foram tão legais e fofos que eu me convenci que alguns britânicos se salvam. E como virão morar no Rio ano que vem, pegamos uma amizade forte!
E fui desbravar Montevidéu começando pelo bairro do albergue, Ciudad Vieja. É onde fica o porto (que não se pode visitar), o Mercado do Porto (o paraíso da variedade de carnes assando), alguns museus e... ninguém nas ruas. Me deu até medo, juro. Talvez por ser fim de semana estava tudo deserto. Silêncio. Eu só ouvia meus passos na calçada. E muitas partes da região não são nada bonitas, nem me pareceram muito seguras. E eis que um senhor acompanhado de um cachorro vestido com pulôver roxo (estava frio, gente!) puxou conversa dizendo pra eu tomar cuidado com assaltantes, pra não ficar com a câmera muito exposta, evitar algumas ruas e tal. Também falou pra eu ligar pra ele se quisesse sair à noite (senta, Claudia!) e, quando começou a xingar o cachorro de estúpido e maricón eu já queria estar bem longe dali.
No centro, ao redor da Plaza Independencia e ao longo da Av. 18 de Julio, já havia bem mais gente. Ufa! Todos com sua garrafinha térmica debaixo do braço e sua cuia de mate na mão. Todos mesmo! Deu até vontade de comprar uma. Mas ainda nada de extremamente interessante. Uma fome monstra já tomava conta de mim, mas eu tenho uma mania horrível de não entrar nos primeiros restaurantes que encontro por pura insegurança por estar sozinha. Bobeira total. Uma hora depois eu supero, é sempre assim. Entre sentir vergonha e morrer de fome, acabo ficando com a primeira opção.
Ainda em busca de atrações um pouco mais interessantes e de um lugar pra comer, eis que avisto ao longe uma casa de parrilla. Foi como um oásis no meio do deserto. Assim que entrei, vi que havia outra mulher almoçando sozinha e me senti bem mais confortável. E foi ali que comi uma das melhores carnes da minha vida. Era um asado cheio de gordura e sabor que me fez sorrir novamente. Acompanhado de uma taça de vinho, então, me fez feliz pra sempre. As carnes da Argentina são incríveis, mas as do Uruguai são insuperáveis.
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