sábado, abril 13, 2013

São Francisco I - Vento, ventania

“If you’re going to San Francisco...”

São Francisco era o lugar que eu mais queria conhecer nessa viagem. Vai ver foi por causa dessa mega expectativa que à primeira vista não achei nada de mais. Mas graças aos deuses padroeiros dos viajantes essa ideia inicial foi embora pra sempre. Passei quatro dias lá e só a partir do terceiro a cidade me fez gostar dela de verdade. Mas também, quando comecei a gostar, foi uma coisa tão intensa que eu pude ver e sentir que o tanto que falam sobre ela tem toda razão de ser dito. 

São Francisco é a estrela do Estado da Califórnia. As ruas são uma graça, as casas vitorianas são fofas, os bondes são um charme e a vista pra baía e pra Golden Gate é realmente de tirar o fôlego. Então, por que cargas d’água eu demorei dois dias pra me encantar com isso tudo? Não sei. Assim que desembarquei, foram 500 voltas no aeroporto até encontrar o lugar correto do shuttle, já que as placas não ajudavam. Depois disso, mais um trânsito absurdo até a cidade. Estava sol, mas o vento constante que bate congela seus ossinhos. Aposto que as roupas secam rapidinho por aqui. Cheguei no hostel, abri a porta do quarto e achei que um vendaval havia atingido tudo. Parecia um cenário pós-twister. Não havia espaço livre no chão. Estava tudo tomado por roupas, papel, latas de cerveja, pacotes de biscoito. Gente, São Francisco está em guerra e ninguém me avisou? Devo ter ficado um tempo parada na porta, olhando abismada praquela confusão toda. Então um alemãozinho, meu roommate, já veio me cumprimentando cheio de simpatia. Quando perguntei o que havia acontecido ali, ele deu uma risadinha e fez uma mea culpa em nome dos meninos do quarto.
E eu fui andar, né? Que é o que mais faço nessa vida de mochileira. Chinatown, com seus prediozinhos característicos do oriente e uma infinidade de produtos on sale, quase nada de muito útil. Ok, eu nunca gostei de nenhuma chinatown e tenho implicância com todas, admito. Não é por mal. Eu só não acho a menor graça. E ainda foi o primeiro lugar que visitei em São Francisco. Aí depois não gosto tanto da cidade e não sei o porquê... affff! Ok, dessa vez a culpa foi minha. Sei lá, acho que tenho uma esperança de encontrar uma chinatown de que eu goste. Essa, especificamente, fica bem próxima ao financial district e, também confesso, os prédios de escritórios me chamaram muito mais a atenção. Não tem como não admirar a arquitetura bizarra da Transamerica Pyramid. Pra mim ela é um dos grandes (enormes, aliás) símbolos da cidade.

Painel na Coit Tower
Uma outra marca de lá, que de fato marcou todos os meus passos, mentalmente e fisicamente, são as ladeiras. Meu Pai eterno. A geografia de São Francisco é praticamente um trilho interminável de algum brinquedo radical da Disney. “A cidade é cheia de ladeiras”, é o que a gente sempre ouviu falar. Mas só chegando aqui pra perceber que não é brincadeira. Algumas ruas estão dispostas num ângulo que não dá pra acreditar como os pedestres e os veículos não saem rolando até lá embaixo. E pra subir, gente? Pra chegar à Coit Tower, uma torre de observação que, obviamente, fica zilhões de metros acima da normalidade, no alto de Telegraph Hill, foi preciso educar meu cérebro e meu corpo e convencê-los de que eram capazes de passar a pé por tamanho sacrifício. Deu certo. A subida foi árdua e lenta. Alcancei a torre com um palmo de língua pra fora, mas valeu a pena. Os painéis gigantes pintados no saguão e a vista que se tem do mirante valem todas as calorias perdidas. Viajar também é vencer nossos próprios limites... rsrs

Continuando no assunto ladeira (porque são muitas mesmo, então o tema rende), São Francisco tem a Lombard Street, a rua mais diferente de todas. Justamente por ser a mais íngreme teve que ser feita em curvas e é famosa por ser a mais sinuosa do mundo. Então os carros vão passando bem devagar e a turistada vai tirando fotos. E pra chegar lá, adivinha?, sobe-se uma outra ladeira pesada. Ainda era meu primeiro dia na cidade, mas a essa altura (literalmente!) do campeonato, eu já traçava meu percurso tentando passar pelas transversais às piores ladeiras, observando o que era subida e buscando as descidas. Toda trabalhada no planejamento estratégico.

À noite, os alemães bagunceiros do quarto se tornaram meus melhores amigos. Eram dois engraçadíssimos e sem noção alguma que me fizeram gargalhar a noite toda, além de um terceiro calmo e sereno. Esse último foi minha companhia durante todo o dia seguinte na visita ao California Academy of Sciences e sua fila de duas horas porque era o único dia do mês com entrada gratuita. As principais atrações do museu são um simulador de terremoto e a exibição de filmes na cúpula do planetário. Tudo usando a cidade como exemplo. Demais! Depois fomos caminhando por toda a extensão do Golden Gate Park até Ocean Beach. Longe, viu? E estava um frio bacana, com gente encasacada acendendo fogueira na areia, e nem era pra ficar tocando violão em volta. No fim do dia, de volta ao hostel, encontrei Eva, a suíça que estava no meu quarto em San Diego. Posso ficar me repetindo e dizer que eu simplesmente adoro esses encontros fortuitos pelo mundo, em que estou num país que não é o meu e esbarro com um conhecido que também vem de outro lugar? É muito louco. E é bom à beça! A atividade desta noite no hostel era cinema + ice cream for free. E dessa forma terminamos o dia. O alemão, a suíça e a brasileira. Não sei se dormi muito durante o filme, mas ele terminou sem fazer o menor sentido. Pelo menos tomamos sorvete de graça.

Só pra deixar bem enfatizado: faz frio mesmo em SF. Não é frio de neve. É frio de vento. Como diz um personagem do filme "Alcatraz - Fuga impossível", "um amigo disse que o inverno mais rigoroso que ele enfrentou foi um verão em São Francisco". Ou seja, for those who come to San Francisco, be sure to wear... A SWEATER!


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